quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Um novo retrovisor

                                

Malas prontas. Tudo certo para a viagem de férias. Não ficaria muito tempo, bastava uma semana para rodar pela cidade. Chamou um táxi pelo telefone. Como sempre fazia. Achava muito boa a ideia de ir conversando com os motoristas. Era uma espécie de divã. Falava, falava e depois batia a porta com alívio.
Entrou no táxi e viu que apesar de usar um elegante vestido, havia esquecido de colorir os lábios. Faltava-lhe um brilho. Começou a conversar com o motorista sobre o carnaval, enquanto revirava a bolsa a procura de um batom.
O motorista perguntava se ela era casada, se estava indo viajar a trabalho, se conhecia a tal cidade. Com um sorriso no canto da boca, ele a olhava pelo retrovisor. Bonita, educada, simpática.
            Achava graça das frases dele. Não achava o batom, achou uma conta com o prazo vencido, consultou o calendário no celular e continuava a falar com o motorista. Não parava quieta com aquela bolsa de muitos fechos.
            Ele estacionou com cuidado, para retirar a mala. Não podia ficar muito tempo parado ali, porque táxis e aeroportos não são pacientes.
            Ela desceu do carro e quando foi pegar a mala, ele segurou a mão dela e perguntou se ela, realmente, não estava lembrando dele.
            Ela deu uma risada, não se sabe se foi um susto ou de prazer. De fato. Era ele! Seu primeiro namorado. Seu homem por quase quatro anos. Viu bem que os dentes dele ainda eram tortos e o corpo atlético. Sorriu com mais calma, sentindo a chuva cair. ‘Estimo em revê-lo’, disse.
            Vai ver é assim mesmo, pensaram. Algumas pessoas ficam a olhar a vida pelo retrovisor. Enquanto outras buscam novos voos, mesmo sem brilho.

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