Arquivo pessoal- Figueira da Foz/Portugal |
Volto a escrever no outono, depois de passadas muitas estações
da vida. Escrever com a escolha da palavra certa não é tarefa fácil; como saber
o exato momento desse (re)começo? Como imaginar que após um clic tudo passa a
ter outro sentido.
A palavra chegou na minha vida muito jovem. O texto literário,
por exemplo, foi o que me fez ter a certeza de que Sepetiba seria ponto de
partida para alçar voos para o mundo. A literatura me comoveu, como a querida
Eliana Yunnes explica “ comover é o que nos faz mover do lugar”. Aliás, foi com
ela que descobri os encantos da palavra pelo olhar acadêmico. Me movi, mas a
vida não se basta só nos escritos profissionais. A palavra ganha vida
acompanhada dos encontros com a vida. Voltei a escrever porque voltei a sentir necessidade
de sentir e dizer. Escrever é hábito e como qualquer um deles (escovar os
dentes, escovar os cabelos, tomar banho, ler...) se descuidamos, perdemos a
mão.
Escrever é como amar. É aquele frisson na hora do encontro, é escolher o melhor dizer, o melhor
momento de tocar, escolher e se encolher diante de qualquer chance de crítica,
de negação. Quem escreve, escreve para ser lido, escreve para dizer aquilo que está
na garganta ou no coração. Escreve porque se torna sem graça a vida sem os
nossos dizeres, ainda que sejam carregados de clichês. Quem ama, se doa. Quem
escreve também. É como se o amor fosse um hóspede que se instala na sua vida e
você não quer mais que ele vá embora. Aquela palavra-hóspede é educada e sedutora.
Voltei aos escritos, a novos olhares, novos lugares, voltei com as palavras do
Vinícius de Morais “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.