Foto: Cristina Varandas |
Paulo tinha fama de mentiroso.
Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência
cuspindo fogo e lendo fotonovelas. A mãe botou-o de castigo, mas na semana
seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo
cheio de buraquinhos, feito queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta
vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante
quinze dias.
Quando o menino voltou falando
que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam
formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo
ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
— Não há nada a
fazer, Dona Coló. Este menino é mesmo um caso de poesia.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos
plausíveis. In: Prosa Seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003)