domingo, 8 de maio de 2016

Com a palavra, o amor



Arquivo pessoal- Figueira da Foz/Portugal

Volto a escrever no outono, depois de passadas muitas estações da vida. Escrever com a escolha da palavra certa não é tarefa fácil; como saber o exato momento desse (re)começo? Como imaginar que após um clic tudo passa a ter outro sentido.
A palavra chegou na minha vida muito jovem. O texto literário, por exemplo, foi o que me fez ter a certeza de que Sepetiba seria ponto de partida para alçar voos para o mundo. A literatura me comoveu, como a querida Eliana Yunnes explica “ comover é o que nos faz mover do lugar”. Aliás, foi com ela que descobri os encantos da palavra pelo olhar acadêmico. Me movi, mas a vida não se basta só nos escritos profissionais. A palavra ganha vida acompanhada dos encontros com a vida. Voltei a escrever porque voltei a sentir necessidade de sentir e dizer. Escrever é hábito e como qualquer um deles (escovar os dentes, escovar os cabelos, tomar banho, ler...) se descuidamos, perdemos a mão.
Escrever é como amar. É aquele frisson na hora do encontro, é escolher o melhor dizer, o melhor momento de tocar, escolher e se encolher diante de qualquer chance de crítica, de negação. Quem escreve, escreve para ser lido, escreve para dizer aquilo que está na garganta ou no coração. Escreve porque se torna sem graça a vida sem os nossos dizeres, ainda que sejam carregados de clichês. Quem ama, se doa. Quem escreve também. É como se o amor fosse um hóspede que se instala na sua vida e você não quer mais que ele vá embora. Aquela palavra-hóspede é educada e sedutora. Voltei aos escritos, a novos olhares, novos lugares, voltei com as palavras do Vinícius de Morais “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”.