domingo, 5 de junho de 2016

Um domingo com Leminski

Paulo Leminkis


Bem no fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja quem olhar pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos
saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas

.

domingo, 8 de maio de 2016

Com a palavra, o amor



Arquivo pessoal- Figueira da Foz/Portugal

Volto a escrever no outono, depois de passadas muitas estações da vida. Escrever com a escolha da palavra certa não é tarefa fácil; como saber o exato momento desse (re)começo? Como imaginar que após um clic tudo passa a ter outro sentido.
A palavra chegou na minha vida muito jovem. O texto literário, por exemplo, foi o que me fez ter a certeza de que Sepetiba seria ponto de partida para alçar voos para o mundo. A literatura me comoveu, como a querida Eliana Yunnes explica “ comover é o que nos faz mover do lugar”. Aliás, foi com ela que descobri os encantos da palavra pelo olhar acadêmico. Me movi, mas a vida não se basta só nos escritos profissionais. A palavra ganha vida acompanhada dos encontros com a vida. Voltei a escrever porque voltei a sentir necessidade de sentir e dizer. Escrever é hábito e como qualquer um deles (escovar os dentes, escovar os cabelos, tomar banho, ler...) se descuidamos, perdemos a mão.
Escrever é como amar. É aquele frisson na hora do encontro, é escolher o melhor dizer, o melhor momento de tocar, escolher e se encolher diante de qualquer chance de crítica, de negação. Quem escreve, escreve para ser lido, escreve para dizer aquilo que está na garganta ou no coração. Escreve porque se torna sem graça a vida sem os nossos dizeres, ainda que sejam carregados de clichês. Quem ama, se doa. Quem escreve também. É como se o amor fosse um hóspede que se instala na sua vida e você não quer mais que ele vá embora. Aquela palavra-hóspede é educada e sedutora. Voltei aos escritos, a novos olhares, novos lugares, voltei com as palavras do Vinícius de Morais “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”. 

sábado, 30 de janeiro de 2016

Por aí



Diante de um espaço muito menor, vivendo com o básico tenho a sensação de que o espaço se abre, há um alívio. Alívio das coisas desnecessária que me cercam e por descuido não dou um destino melhor. Essa tal simplicidade parece que chegou no meu atual endereço. Gente mais simples, conversas longas entre vizinhos e por vezes um café no apartamento do lado. Não tenho mais reserva de tempo, tenho necessidade dele. Sinto melhor o gosto desse tempo que não me rouba da vida, não me deixa amarga por aí. A parceria com a vida está estabelecida na alma.